Ouça. Mas ouça mesmo, porque a Banda Ultimato faz jus ao nome. Se você colocou o disco para tocar, o caminho é único. Sem saída. O som da banda é literalmente uma declaração final e irrevogável que te conduz, inevitavelmente, a ouvir todas as faixas. E pode ser que você, absolutamente siderado, ande em círculos e ouça de novo. E de novo. E de novo. E sem cansar. E...de novo.
Apesar de a música brasileira viver, há anos, sob a égide das comparações e dos conceitos-chave, para ouvir o Ultimato é preciso deixar de lado antigas premissas e rubricas. Esqueça, sobretudo, o que se ouviu até hoje – em tom pejorativo - sobre produção caseira, banda independente e som jovem. Será preciso reaprender, agora em tom respeitoso e admirador, o que esses três conceitos, em especial, significam no trabalho da banda.
O disco, composto por 12 faixas autorais, foi produzido e gravado num estúdio improvisado em casa. A banda, formada pelos jovens músicos Arthur de Palla, Art, Guinho Tavares e Kadu Magalhães, não poderia demonstrar mais maturidade. Cada letra, cada arranjo e cada virada soam translúcidos a quem ouve, permitindo ver ao fundo a verdade e a seriedade com que os músicos encaram seu ofício: sabem exatamente o que e como querem.
O rock que a banda Ultimato faz é bem brasileiro: primeiro, pela genialidade das letras, que ora passeiam pela vida cotidiana e ora tangem caminhos mais distantes, entrecortados pelo jogo linguístico; depois, pela bem-vinda recepção que fazem das influências de todos os lugares, gêneros e sons. Ídolos e outras bandas, mesmo de outros tempos, entram pela porta da frente, ampla; por fim, pela estreita relação entre as letras - compostas por Kadu Magalhães, o poeta da canção, ou “letrista poeta” (por que não?) – e o contexto ao seu redor. Música de protesto, sim. Balada romântica, também.
Em “Vem ser você”, um dos pontos altos do disco - que será lançado ainda em 2011 – é permitida uma primeira entrada a essa sedutora brincadeira com a linguagem, que de certa maneira “resignifica” a letra, garantindo a ela mais de uma interpretação: “eu que não aguento mais vencer você” e, logo adiante, “não vejo resquícios de outro ser: vem ser você”. Garimpagem típica de bons poetas, que gera efeitos de sentido diversos para uma expressão única.
Ainda há espaço para a execução suja, virtuosa, acelerada, específica do estilo no qual a banda se encaixa. E, apesar de toda distorção, nada de estigmas ou rótulos. O som da banda Ultimato não cabe em formas pré-moldadas. Vai bem além. Letra e música escoram-se uma na outra, e por vezes caminhariam até sós, mas sempre sem muros.
Um brinde ao Ultimato, por ter gritado mais alto, por ter mudado os fatos. E viva quem brindar.
Na web:
http://www.myspace.com/ultimatooficial
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